BORBOLETAS
Estava
a observar as borboletas, seres realmente intrigantes.
Tão
frágeis, tão doces e coloridas. Trazem à natureza uma doçura peculiar,
espalhando por entre as árvores movimentos tão singelos. Pousando de flor em
flor, como que para comparar, sua cor com a da flor em questão.
Seu
voo delicado se parece com um simples flutuar. Antes uma lagarta, agora belas
asas. Antes o rastejar, agora o voo alçado.
Como
um ser tão delicado, não se sucumbe ao enfrentar metamorfose tão intensa?
Muda-se
sua aparência, sua forma de ser e de agir. Num esforço único, rompe o caçulo
que a envolve no mistério mutante, e então, bate as asas e voa.
Não
sei ao certo quais são seus predadores, mas com certeza elas os têm. Ainda
assim, não deixam de voar, enfrentando, até mesmo, a hostilidade do tempo. Sol,
chuva, ventos e trovoadas.
Imagino-me
lagarta. Escolho o lugar onde, enfim, tornar-me-ei em algo mais belo. Não que a
lagarta não tenha seus atributos, mas prefiro as borboletas, são mais belas e
têm a capacidade de voar. Enxergar as coisas sobre a perspectiva do alto é
sempre melhor que rastejar.
Então,
lentamente, teço-me meu casulo, num processo doloroso, e me interiorizo em mim
mesma. Sucede-se meu período de transformação, lá dentro sou apenas eu e mim
mesma. De fora a visão é um tanto quanto estranha, um ser estático, fixado num
suporte. Nesse momento me encontro vulnerável, meu casulo é delicado, e não me
protege totalmente, das circunstâncias externas. Basta um malvado ser, que
devora borboletas, se aproximar, e por fim ao processo transformador.
Sinto
desconfortos, algo em mim muda, com o passar das horas. Um dia, e outro dia, já
não sou mais a mesma. Minhas asas começam a querer se mover, estão crescendo,
me sinto diferente, outro ser talvez. Não que minha essência não seja a mesma,
meu DNA permanece constante, sou fruto da mesma criatura, porém agora, diferente.
Melhor talvez, quem sabe, olhando sob o aspecto do belo. Na realidade, só me
transformei naquilo para o que realmente fui criada. Antes apenas uma etapa do
processo.
Agora,
necessário se fazia romper o casulo. Esforcei-me, num movimentar das asas.
Enfim, livre, ainda que dependurada de ponta à cabeça. Exercitava minhas asas,
estavam fortes. Alcei voo.
Que
maravilha, observar tudo de uma perspectiva diferente, estava voando. Agora
mais doce e delicada, e mais fortalecida pela miraculosa metamorfose.
“E
todos nós com o rosto desvendado, contemplando, como que por espelho, a glória
do Senhor, somos transformados de glória em glória, na sua própria imagem, como
pelo Senhor, o Espírito.”