AQUELE
QUE CRIA, SUSTENTA E SALVA
“No Princípio, criou Deus os céus e a terra. E
a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o
Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.” (Gn. 1. 1-2)
É
interessante observarmos que a narrativa do Genêsis já está matizada pela
presença do caos e Deus é quem sustenta tudo isso. (Is 45.12) Porém essa ideia
de um caos criado praticamente não é concebível, pois o que foi criado não é
caótico. O caos constitui uma ameaça em si para a criação, Deus, então ergueu o
mundo, tirando-o do que era informe, e o sustenta continuamente por cima do seu
próprio abismo.
O
próprio Deus é quem cria o mundo e o salva das trevas, sendo assim a própria
criação torna-se um evento salvífico. (Is 44.24)
A
criação é uma ação histórica de Deus como uma obra dentro do curso do tempo,
ela inaugura o elemento frontal da história, pois se situa, de fato, como a
primeira ação de Deus num começo longínquo, portanto ela não permanece isolada,
pois outras ações seguirão. A criação representa um elemento central no
fundamento absoluto da fé. (Jó 38)
Os
capítulos iniciais de Gênesis enfaticamente pretendem mostrar a história da
criação como um evento pré-histórico preparador da obra salvadora de Deus em
Israel. O escritor de Gênesis, em momento algum, teve a intenção de fazer uma
descrição histórico-científica do processo da criação. A narrativa de Gênesis
desemboca na criação do ser humano como homem e mulher, e o mundo restante está
unicamente orientado para o ser humano como a obra mais sublime da criação. O
ser humano, portanto, é o centro em torno do qual Deus vai construindo toda a
sua atuação. Toda a criação descrita em etapas se movimenta em direção a
criação do ser humano.
O
mundo e tudo o que ele contém possuem unidade e coesão interna, não por um
princípio cosmológico original, mas pela vontade criadora e absolutamente
pessoal de Deus. O mundo foi chamado à existência pela vontade livre de Deus,
portanto ele é de sua irrestrita propriedade, sendo Ele o seu Senhor. É no ser
humano, o degrau mais alto na pirâmide da criação, e sua relação imediata com
Deus, que todo o mundo, cuja disposição afinal está em função do ser humano,
mantém uma relação com Deus.
O
ser humano foi colocado no mundo como símbolo da própria soberania de Deus, a
fim de conservar e impor a reivindicação de domínio de Deus. Além de vir de
Deus, a criação é dotada, através da qualidade de o ser humano ser a imagem de
Deus, de uma atribuição especial que a orienta em direção a Deus. Deus conferiu
ao ser humano o poder de transmitir essa sua mais alta dignidade por intermédio
da procriação das gerações.
Deus
completou sua obra criadora e assiste essa criação com o cuidado de manutenção
e salvação que vêm de si mesmo.
Em
pleno século XXI olhamos à nossa volta e parece estarmos rodeados pelo caos. O
ser humano, aquele que foi criado para dominar sobre todas as coisas e através
do qual o mundo se relaciona com Deus, encontra-se num processo de alienação
desesperadora. Mas onde está Deus nisso tudo? Esqueceu-se Deus do mundo e o
abandonou à sua própria sorte? Evidentemente não.
Deus usa dos desígnios do
coração humano para escrever a história. Ele é o Senhor da história e só por
Ele tudo se mantém. Deus sustenta todas as coisas, pela força do seu poder, por
cima do seu próprio abismo.
O Cordeiro é imolado antes
mesmo da fundação do mundo. “E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra; esses cujos nomes estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde
a fundação do mundo” (Ap. 13.18). Deus já havia traçado o plano de salvação para
o mundo, e desde o princípio segue conduzindo a história. Ele lançou mão de
três povos para construir a história da redenção. Chamou o povo judeu: “Sai de
tua terra, da tua parentela...” (Gn 12.1); a esse povo ele deu a lei, falou,
fez promessas. Esse povo guardou a promessa e possuía os instrumentos
necessários para reconhecer o Messias que abençoaria todos os povos. Através da
cultura grega uma língua única pôde ser falada entre muitos povos, isso fez com
que o evangelho se expandisse e fosse pregado aos gentios. Os romanos eram bons
em direito, estabelecem a paz (pax) e propiciaram o deslocamento de um lugar para
o outro, construíram estradas, e de maneira segura possibilitaram que os
discípulos e o próprio apóstolo Paulo viajassem de um lugar para outro pregando
o evangelho.
No momento certo, quando
todas as coisas estavam como deveriam estar o Kairós de Deus se manifesta e o
Cordeiro vem ao mundo para salvá-lo. Deus conduziu a história nos mínimos
detalhes, chamou um povo para que o reconhecesse, usou outros dois na história
desse povo para que o evangelho fosse pregado. Deus não conduz a história?
Olhamos para ela e enxergamos o caos, mas o próprio Deus cria o mundo, o
sustenta e o salva.
Que Deus nos abençoe!