QUEM
SOU EU?
Quem
é esse do outro lado do espelho? Anos se passaram, e eu nem sequer o conheço.
Estou com ele todos os dias, mas para mim é como se fosse um estranho. Às vezes
tenho alguns fleches de memória, que me remetem à essência desse ser, mas em
outras ocasiões parece-me desconhecido. Tenho convivido ano após ano, com essa
presença tão presente em minha vida, no entanto, ainda não sei dizer ao certo
quem ele é.
Tentando
corresponder às expectativas do mundo ao meu redor, fujo da realidade refletida
no espelho e me alieno de mim mesmo. Enxergo a imagem idealizada, e nego a
incoerência, e a fragilidade que me escravizam. Minhas emoções fluem num
turbilhão de sentimentos, nem sempre explicáveis. Não os consigo controlar, e
sou sucumbida e levada pelas linhas escritas por eles. Não deveria a razão
falar mais alto? Porque me deixo ser controlada por eles? Por que me escravizo?
Preciso conhecer o ser no espelho. Quem é do outro lado? Essa é a resposta que
procuro. Nesse embate entre esses dois seres, acabei criando uma personagem, quando
enfim o conhecer, libertar-me-ei da cobrança de ser outra pessoa, e me
reconciliarei comigo mesmo.
Emoções,
palavra tão pequena para descrever tantas mudanças, ações, reações e consequências que nos acompanham todos os dias em nossas vidas. Consciente ou inconscientemente
somos conduzidos por elas, nos direcionamos por elas, sofrimento e felicidade
estão diretamente ligados ao resultado direto de nossa relação com elas.
Expressamos
e nos calamos pela força delas, enfim, elas são parte do nosso ser, e de nossa existência.
A
falta de compreensão de quem somos, de como fomos criados por Deus, e do papel
de nossas emoções, faz com que não consigamos viver em paz, nem compreender a
forma pela qual agimos. Somos seres emocionais, criados por Deus segundo a sua
imagem e semelhança.
Na
passagem bíblica que fala do encontro de Jesus com Marta e Maria, irmãs de
Lázaro,(João 11); observamos Jesus homem, um ser totalmente emocional. Ao perceber a
tristeza das irmãs e se deparar com a triste cena diante dele, Jesus se sente
profundamente tocado. E por fim, ao ver o símbolo da morte, a sepultura de
Lázaro, Jesus chora. Isso demonstra o comportamento profundamente emocional de
Jesus, mas ainda que, sentindo a dor, ele não se deixa dominar por ela, mas
reage a ela, reage diante dela, reage para transformá-la em oportunidade, Jesus
tem o perfeito controle de suas emoções. Jesus experimentou, sofreu e lidou com
todas as experiências humanas, por isso n’Ele, podemos encontrar nossas fontes
emocionais e entender que fomos criados para perceber, interpretar e viver as
experiências de nossas vidas, através da manifestação de nossas emoções. Sofremos
quando as negamos, quando as aumentamos, quando não as compreendemos. É preciso
que busquemos o caminho do equilíbrio, nos aceitando como seres emocionais,
aprendendo a trilhar na perspectiva da graça de Deus, para lidar com nossas
emoções.
Nossas
emoções não são por si mesmas negativas. Elas funcionam como sistemas de
alarmes que identificam que estamos experimentando situações diversificadas em
nossas vidas, as formas como escolhemos em lidar com elas é que irão determinar
se são ou não negativas.
Precisamos
aprender a relacionar nossas emoções com as situações nas quais estamos
vivendo, pois isso trará crescimento, amadurecimento, visão de novo começo. Não
há como fingir ou mascarar nossas emoções. Quando tentamos fazê-lo, geramos
processo doentio, onde sofremos, e fazemos os outros sofrerem. É necessário que as sintamos , mas não podemos nos deixar ser sucumbidos por elas.
Precisamos
impor limites às emoções e sentimentos, não podemos ser dominados por eles.
Nosso sistema racional precisa identificar, até que ponto, nossas emoções estão
influenciando nosso comportamento, não podemos ser orientados por elas e sim
pela nossa consciência e razão.
Ser
dominados por nossas emoções é sempre mais fácil que tentar controlá-las, é
preciso sentir e expressar, mas também é preciso aprender a lidar com essa cascata de sentimentos. Na carta de Paulo aos Gálatas, capítulo 5, versículo 22, está a real essência
de uma vida regida pela razão. Paulo lista uma sequência de comportamentos, que
são os frutos do Espírito, dentre eles, domínio próprio. É totalmente
espiritual e vindo de Deus, a orientação de que dominemos nossas emoções e sentimentos
e não nos deixemos ser dominados por elas. A razão precisa ser o carro chefe em
nossa vida, e as emoções deverão vir na sequência. Possuímos um centro racional,
criado por Deus, para aprendermos a lidar e por limites às nossas emoções. Por
isso, elas não devem falar mais alto em nossa realidade.
O
Rei Saul, foi dominado e levado por suas emoções e seu ciúme, pela prosperidade
de Davi. Ele deixou ser dominado por elas, isso, fez com que surgissem
sentimentos de insegurança, raiva, vingança. Suas emoções o tomaram de forma
tão negativa, que o impediram de perceber que Davi era um aliado, e não queria
de forma alguma usurpar seu trono. Saul passou a interpretar todas as ações de
Davi de forma equivocada, e seu ódio bloqueou as possibilidades de crescimento
em seu reinado. Isso estragou sua possibilidade de realização pessoal e
manifestação da graça de Deus. Como consequência, sabemos o terrível desfecho
dessa história, Saul perde seu reino, perde a seu filho, e perde a Davi. (1
Samuel 19)
Se
Saul tivesse tido a maturidade, de separar suas emoções dos fatos, poderia ter
percebido tantas verdades, e reagido de formas diferenciadas diante das
circunstâncias, e então, teríamos um desfecho totalmente diferente dessa
história.
Sabemos
que, nossas emoções fazem parte de nós, e não vivemos sem elas. Elas nos impulsionam
a ações e reações, mas sob a graça de Deus, podemos aprender a refletir sobre
elas, e dominá-las, antes de sermos arrastados e desestabilizados por elas,
provocando fontes de sofrimento e angustia a nós e aos outros.
Faz-se
necessário um exercício diário, onde o autoconhecimento torna-se um grande
aliado, na busca do equilíbrio.
Conhecer
nosso temperamento faz com que saibamos agir, antes que nossas reações
impulsivas venham à tona.
Olhar
pra dentro de nós mesmos, sem hipocrisia, sem culpas e sem máscaras, na busca
desse ser que, se emociona, age e reage, mas que é dotado de um sistema
racional e inteligente, criado à imagem e semelhança daquele que é sobre tudo e
todos, e nos criou seres capazes de controlar a nós mesmos, e a nossos impulsos.
“Filho
meu, se aceitares as minhas palavras, e esconderes contigo os meus mandamentos,
para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido, e para inclinares o teu coração
ao entendimento, e se clamares por inteligência, e por entendimento alçares a
tua voz, se buscardes a sabedoria como a prata, e como a tesouros escondidos a
procurares, então entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de
Deus. Porque o Senhor dá a sabedoria, da sua boca vem a inteligência e o
entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para o retos, e escudo para os
que caminham na sinceridade, guarda as veredas do juízo e conserva o caminho
dos seus santos.” (Provérbios 2: 1 à 8)
Que
Deus nos abençoe!
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