A
QUEM SIGO?
“Se alguém que vir após mim,
a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me”. ( Lucas 9. 23)
Segundo as últimas estatísticas o número de evangélicos no Brasil aumentou 61,45%
em 10 anos, segundo dados do Censo Demográfico divulgado em 2012 pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. Em 2000, cerca de 26,2 milhões se
disseram evangélicos, ou 15,4% da população. Em 2010, eles passaram a ser 42,3
milhões, ou 22,2% dos brasileiros. Em 1991, o percentual de evangélicos era de
9% e, em 1980, de 6,6%.
Mesmo com o
crescimento de evangélicos, o país ainda segue com maioria católica. Segundo o
IBGE, o número de católicos foi de 123,3 milhões em 2010, cerca de 64,6% da
população. No levantamento feito em 2000, eles eram 124,9 milhões, ou 73,6% dos
brasileiros. A queda foi de 1,3%.
Num país dito cristão e
principalmente quando se há o aumento estatístico no número de evangélicos,
esperar-se ia que inversamente proporcional a esse número todos os outros
números desfavoráveis à cultura cristã baixassem; dentre eles a corrupção,
homicídios, roubos, tráfico humano, tráfico de drogas, pedofilia, os crimes
contra a mulher, a desigualdade social, e tantas outras mazelas que permeiam a
triste realidade do nosso país. No entanto, a realidade tem mostrado que esses
números não cederam e em alguns casos aumentaram.
O que há de errado então? Se
o número de cristãos cresce não deveríamos esperar que a cultura e pensamento
cristão fossem impregnados na sociedade, já que fazemos parte dela?
A resposta apesar de parecer
uma incógnita não é difícil de ser conhecida. Basta analisarmos a frase dita
por Jesus em Lucas 9.23, “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo negue, dia a
dia tome a sua cruz e siga-me”.
Antes de analisarmos o dito
de Jesus, levantaremos algumas questões para elucidar o assunto.
Após a queda do homem e sua
expulsão do Jardim do Éden, houve separação entre Deus e o homem por causa do
pecado. O homem deixou de ser teônomo (dependente de Deus, sujeito a Deus) e
tornou-se autônomo (independente, que se governa por leis próprias). Não fomos criados autônomos - apesar de tudo o que é dito nos
nossos dias. Não podemos
servir de lei a nós mesmos - apesar de toda relação
subjetiva que a "igreja" tem com a Palavra hoje. Fomos criados teônomos, ou seja,
compelidos a guardar a lei do nosso Senhor de quem somos servos.
Dessa
forma, sendo governado por si mesmo, o homem tornou-se egocêntrico, ou seja,
(ego = eu) o “eu” no centro. Deus deixou de ser o centro e o homem passou a ser
o centro de sua existência, invertendo assim a ordem natural para o qual foi
criado.
Quando o
“eu” é o centro agimos e pensamos segundo sua vontade, ele (o eu/ego) é quem
dita as regras, seguimos a ele, caminhando em sentido oposto ao caminho de
Jesus. Se seguimos a lei de nós mesmos, consequentemente, não seguimos a
Cristo.
Fazemos e
seguimos nossas próprias leis, nossos códigos de conduta e ética. Seguimos
aquilo que nos é mais conveniente, aquilo que nos deixa confortáveis e não nos
confronta. Seguimos ideologias, pensamentos filosóficos; seguimos um conjunto
de regras e costumes, um conjunto de dogmas e doutrinas, enfim, não seguimos a
Cristo, mas sim aquilo que melhor se adéqua à nossa maneira de pensar. Por esse
motivo não percebemos mudanças significativas na sociedade, ainda que as
pesquisas apontem para um aumento no número de cristãos evangélicos no país.
Não há mudança de fato. E quando digo mudança refiro-me à mudança de caráter,
posturas, convicções, à partir do modelo de Cristo, assemelhando-nos a Ele e
não a partir de nossas próprias convicções, maneira de pensar e agir.
A Bíblia
diz que “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e
perverso; quem o poderá conhecer?” (Jeremias 17.9-10); e também diz: ”Quem
conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de
Cristo.” (1Coríntios 2.16).
Seguindo
nossas próprias leis, certamente, tenderemos ao engano, necessário é que
tenhamos a mente de Cristo, que pensemos como Ele e para que tenhamos a mente
de Cristo é necessário negarmos a nós mesmos, à nossa vontade, para só
assim, pensarmos conforme Cristo pensa e age.
Jesus
deixou alguns ensinamentos a respeito desse assunto, daquilo que é necessário
que façamos para segui-lo. Primeiramente Ele diz: “aquele que quiser vir após
mim, negue-se a si mesmo”. Chama-me a atenção o “após mim”, Ele já fez o
caminho, por onde não poderíamos ir sozinhos, por isso é necessário ir após
Ele, seguir os seus passos, fazer o mesmo percurso, seguir a mesma direção. Ele
foi à frente, para mostrar-nos o que precisaria ser feito para romper a
separação, para sairmos da autonomia e voltarmos à teonomia, total dependência
de Deus e submissão à Sua vontade. Jesus fez esse percurso em nosso favor, o
próprio Deus se fez homem e apontou o caminho que só Ele conhece para
retornarmos a Ele próprio. O homem separado de Deus age segundo sua própria lei
e vontade, portanto, não poderá desfrutar da vontade de Deus para sua vida,
consequentemente não agirá no mundo de forma a fazer manifesta a vontade de
Deus para toda a humanidade, que é expressa através de nossas vidas, nós que
somos as cartas vivas, aqueles que carregam a mensagem dessa boa nova. É
através daquele que segue a Cristo que a vontade de Deus será manifesta na
sociedade como um todo.
A segunda
coisa que Jesus nos ensina é que, para segui-lo é necessário “negar-se a si mesmo”.
Negar a si mesmo é justamente, ter a mente de Cristo. Deixar de pensar por nós
mesmos, segundo nossos padrões, segundo nosso conjunto de regras e práticas. É
negar toda nossa bagagem do homem Adâmico, o homem caído e separado de Deus.
Negar o homem carregado de si mesmo, negar o homem objeto central. É colocar
Deus no centro, no lugar onde só ele pode ocupar. É deixar nosso egocentrismo,
é parar de olhar para nosso próprio umbigo. É deixar nosso orgulho, nossa
presunção, nossa arrogância, nossas conjecturas humanas falhas, é deixar que o
Espírito Santo nos guie em toda a verdade, pois por nós mesmos jamais
conseguiremos fazer tal coisa. Jesus disse: “quando vier o Espírito da verdade,
ele vos guiará em toda a verdade;” (João 16.13a) e ainda, “Quando ele vier
convencerá o mundo do pecado da justiça e do juízo;” (João 16.8), “Também o
Espírito semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza;” (Romanos 8.26a). Não
somos capazes de seguir a Cristo ou negar-nos a nós mesmos por nossas próprias
forças, isso só se torna possível através da ação do Espírito Santo, que age em
nós e através de nós. A Bíblia nos adverte em 1 Tessalonicenses 5.19: “Não
apagueis o Espírito”. A chama do Espírito Santo precisa permanecer acessa
dentro de nós, é preciso arder em nós esse desejo de nos assemelharmos a
Cristo.
Terceira
coisa que Jesus nos ensina é que, “dia a dia tome a sua cruz”. Paulo disse: “já
estou crucificado com Cristo; e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim”;
(Gálatas 2.20). Quando Cristo morreu na cruz ele se esvaziou, ele se entregou
totalmente, ele se fez pecado e maldição. Ele entregou o que de melhor ele
tinha, sua inculpabilidade, sua perfeição para pagar um preço que não era dele,
ele morreu em meu lugar, em seu lugar. O homem perfeito, segundo aquilo que
Deus havia criado para que fosse, padeceu na cruz. Ele morreu para romper a separação que havia
desde a queda do homem, ele morreu para consumar o plano de resgate do homem,
para cumprir a vontade de Deus para toda a humanidade desde sua fundação.
Vontade essa baseada em relacionamento, o que antes havia se perdido através do
pecado, agora se restaurara através do sacrifício do Santo.
Tomar a
cruz é deixar o que me é de mais caro, aquilo que me custa, aquilo que me
impede. É deixar o que me separa, é abrir mão do que escraviza daquilo que
tenho como senhor, para me entregar à morte por amor de Cristo. É morrer para
mim mesmo e renascer em Deus. É decretar a morte de tudo que me prende, de tudo
que me afasta. Todas as barreiras precisam morrer; tudo aquilo que se coloca
como um véu entre eu e Deus precisa ser rasgado. O véu que fazia separação
entre o ser humano e Deus foi rasgado através da morte de Jesus na cruz, e com
Cristo deixamos na cruz tudo aquilo que nos separa de Deus.
O que te é
mais caro deixar? Se não deixarmos o que nos impede, jamais conseguiremos
seguir a Cristo.
Eis a
resposta de não haver transformação na sociedade em um país onde o número de
cristãos evangélicos aparentemente cresce. Seguimos ideologias, seguimos conceitos,
seguimos pessoas, seguimos regras e doutrinas, mas não seguimos a Cristo.
Continuamos sendo o centro, invertemos o papel, quando colocamos Deus como
nosso servo. Não negamos a nós mesmos, não desejamos a cruz. Não queremos a
morte do nosso “eu”, pois o amamos ardentemente, somos egocêntricos e amantes
de nós mesmos. “Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos,
presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos,
profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes,
cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais
amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas
negando a eficácia dela.” (2 Timóteo 3.2-5). Essa é nossa dura realidade.
Ficarei
muito feliz no dia em que os números deixarem as folhas das pesquisas e
passarem a ser efetivamente reais, através de mudança de vida, de transformação
de caráter. Ficarei muito feliz no dia em que Deus for o centro, no dia em que
conseguirmos cumprir os dois mandamentos nos quais se resume toda a lei: Amar a
Deus sobre todas as coisas, e amarmos uns aos outros assim como Ele nos amou.
Negar a si
mesmo e tomar a cruz dia a dia não é tarefa fácil, mas é possível através da
ação do Espírito Santo que nos capacita a mover em tal direção. É deixar-nos
moldar, é estarmos sensíveis à voz do Espírito que sopra a vontade de Deus
sobre nossas vidas.
Façamos
esse exercício em seguir os passos de Jesus, que nos leva a agir e pensar como
ele. Desta forma, sim, os números poderão sair do papel e poderemos vislumbrar
uma sociedade mais justa, mais digna e cristã. A começar em mim.
Que Deus
nos abençoe e nos dê entendimento de sua palavra.
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