sexta-feira, 6 de julho de 2012



BORBOLETAS

Estava a observar as borboletas, seres realmente intrigantes.
Tão frágeis, tão doces e coloridas. Trazem à natureza uma doçura peculiar, espalhando por entre as árvores movimentos tão singelos. Pousando de flor em flor, como que para comparar, sua cor com a da flor em questão.
Seu voo delicado se parece com um simples flutuar. Antes uma lagarta, agora belas asas. Antes o rastejar, agora o voo alçado.
Como um ser tão delicado, não se sucumbe ao enfrentar metamorfose tão intensa?
Muda-se sua aparência, sua forma de ser e de agir. Num esforço único, rompe o caçulo que a envolve no mistério mutante, e então, bate as asas e voa.
Não sei ao certo quais são seus predadores, mas com certeza elas os têm. Ainda assim, não deixam de voar, enfrentando, até mesmo, a hostilidade do tempo. Sol, chuva, ventos e trovoadas.
Imagino-me lagarta. Escolho o lugar onde, enfim, tornar-me-ei em algo mais belo. Não que a lagarta não tenha seus atributos, mas prefiro as borboletas, são mais belas e têm a capacidade de voar. Enxergar as coisas sobre a perspectiva do alto é sempre melhor que rastejar.
Então, lentamente, teço-me meu casulo, num processo doloroso, e me interiorizo em mim mesma. Sucede-se meu período de transformação, lá dentro sou apenas eu e mim mesma. De fora a visão é um tanto quanto estranha, um ser estático, fixado num suporte. Nesse momento me encontro vulnerável, meu casulo é delicado, e não me protege totalmente, das circunstâncias externas. Basta um malvado ser, que devora borboletas, se aproximar, e por fim ao processo transformador.
Sinto desconfortos, algo em mim muda, com o passar das horas. Um dia, e outro dia, já não sou mais a mesma. Minhas asas começam a querer se mover, estão crescendo, me sinto diferente, outro ser talvez. Não que minha essência não seja a mesma, meu DNA permanece constante, sou fruto da mesma criatura, porém agora, diferente. Melhor talvez, quem sabe, olhando sob o aspecto do belo. Na realidade, só me transformei naquilo para o que realmente fui criada. Antes apenas uma etapa do processo.
Agora, necessário se fazia romper o casulo. Esforcei-me, num movimentar das asas. Enfim, livre, ainda que dependurada de ponta à cabeça. Exercitava minhas asas, estavam fortes. Alcei voo.
Que maravilha, observar tudo de uma perspectiva diferente, estava voando. Agora mais doce e delicada, e mais fortalecida pela miraculosa metamorfose.

“E todos nós com o rosto desvendado, contemplando, como que por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.”