terça-feira, 21 de junho de 2016




A DIABÓLICA DICOTOMIA HUMANA

                                 
                                  
Texto base: Mateus 6.25-34
Não consigo entender essa dicotomia, que se cria, dividindo entre esse ou aquele erro humano. É como um cabo de guerra, onde cada um procura atrair maior número de adeptos para seu lado. Mas, afinal de que lado estamos? Não estamos todos do mesmo lado? O erro não é erro em qualquer idioma, em qualquer espaço geográfico ou em qualquer esfera? No processo de destruição ambiental, em que estamos inseridos, esse processo de extinção em massa, onde a biodiversidade corre sério riso de aniquilação, quais são os resposáveis, ou melhor, quem seria o responsável? Seria a própria criação, um processo natural de degradação terrestre? Quem sabe a fauna? A flora? Não, existe uma única espécie causando esse processo apocalíptico que temos vivenciado, nossa espécie, o ser humano. Não é sempre o homem? Qual o problema em indignar-se por esses feitos diabólicos? Não são esses, tão diabólicos quanto um semelhante contra seu outro semelhante? Querem discutir coisas grandes, sem se preocuparem com as menores? Se o homem não consegue respeitar a fauna, a flora e o planeta como um todo, iria ele respeitar seu semelhante? Quais serão as vozes da fauna e da flora que eclodirão nos ouvidos do planeta se não forem ditas pelo próprio homem? 
No Sermão do Monte, mais especificamente, no Evangelho de Mateus capitulo 6 versículos 25 a 34, Jesus trata dos nossos negócios públicos, já que nos versículos anteriores tratou dos negócios particulares (oração, jejum, obras de misericórdia).  Jesus não entendia esses dois aspectos em compartimentos separados, de forma dicotomica, mas sim, como sendo de uma mesma natureza. Religioso e secular, duas coisas "religiosas", no sentido de que se é feito na presença de Deus, e de acordo com sua vontade, pois ele tudo vê. Há um convite insistente de Jesus, nas duas esferas, o chamado para sermos diferentes da cultura popular: diferentes da hipocrisia religiosa e, também diferentes do materialismo não religioso.
O homem é fascinado pela ambição, pelo materialismo, mesmo diante de um mundo caótico, com assustadores problemas econômicos e sociais. Ao contrário de desenvolver um estilo de vida mais simples, comprometido com o outro e com o bem estar do planeta, é egoísta, desperdiça e estraga os recursos naturais e não os distribui de forma igualitária, agindo, diferentemente, do que Jesus ensina em Mateus 6.25-34 sobre o Pai que alimenta e veste seus filhos e mais à frente, no mesmo livro, diz que nós mesmos devemos alimentar os famintos, vestir os nus e que, seremos julgados por nossas ações diante de toda a criação, que geme aguardando a revelação dos filhos de Deus. Jesus não nos isenta da responsabilidade de sermos os agente para isso. Nos versículos 25-34 ele fala do corpo, do alimento, da propriedade, do dinheiro, da bebida, da ambição. E como bom observador que era, traça um paralelo entre a fauna, a flora e os seres humanos. Fala dos pássaros que não semeiam, não ceifam, não ajuntam em celeiros, mas o Senhor os sustenta; também fala da flora que se veste divinamente, mas não gasta seu tempo se preocupando com isso. Jesus estava dizendo que ele proveu, tanto para a fauna, quanto para flora os recursos necessários à sua existência, recursos esses presentes na própria natureza. Deus os alimenta, a todos, mas o modo como o faz não é estendendo-lhes a mão cheia de comida, mas providenciando na própria natureza os recursos necessários. Não é um processo miraculoso, antes um processo complexo de trabalho, que ele mesmo arranjou, em que eles extraem do solo, do sol, da água, das árvores e dos próprios animais seu sustento. Contudo, o homem é o único animal que se acha no direito de revogar tudo para si, e destrói o que Deus criou para sustentar sua criação. É o único ser que se acha no direito de obter tudo de mão beijada, desperdiçando o que Deus criou para sustento dos outros seres vivos e do próprio homem, por entender-se única "criatura" de Deus. Esquecendo-se que, tudo que Deus criou viu Deus que era bom. Plantas e animais são seres criados por Deus, pertencem a ele. Foram criados para a glória dele. Os salmos dizem que todo ser que respira concede glória ao Senhor, também diz que, toda a natureza revela a glória de Deus e o bendiz. Não podemos travar um cabo de guerra medindo forças frente aos abusos e atrocidades cometidos pelo ser humano. Toda atrocidade é atrocidade. Não podemos enxergar o mundo nessa dicotomia. Não podemos dividir tristezas em tamanhos, nem pecados em graduações. Enquanto teóloga me sinto na obrigação de ser mestre como Jesus. Ensinando aos homens a serem cidadãos na vida e para a vida, e em todos os aspectos de sua existência. Sejam eles no convívio com os seus pares, na forma como lida com a fauna, a flora e o meio ambiente. Não podemos nos dividir em quadrantes com maior ou menor importância, pois PECADO, não possui graduação. Pecado é pecado!!! 
A degradação ambiental, a forma como o homem tem tratado a fauna, a flora e todos os recursos hídricos e minerais tem sido um pecado contra a criação. Criação essa amada por Deus. Em cada um dos dias que Deus trabalhou, e após ver cumprido todo o trabalho de suas mãos, viu Deus que tudo era bom.
Não podemos mais fechar os nossos olhos. Não podemos mais nos calar. Vozes precisam se levantar em nome da fauna e da flora e de toda biodiversidade, pois, a única forma de eles chorarem, e clamarem por misericórdia, é através de nós.