segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O JUGO DE JESUS

"Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve". Masteus 11:29-30

Esta fala de Jesus a respeito do jugo acontece no contexto das escolas rabínicas de sua época. Naquele tempo se dizia que cada rabino tinha seu próprio jugo. Os rabinos viviam de discutir a lei, interpretá-la e oferecer recomendações práticas de como guardá-la.  Essas recomendações eram chamadas de “o jugo do rabino”.  Sendo assim, as pessoas que seguiam determinado rabino eram conhecidas como aquelas que se colocaram debaixo do jugo do rabino. Cada escola rabínica tinha seu jugo e seus seguidores. Então vem Jesus e diz: “Tomem sobre vocês o meu jugo”, Jesus estava dizendo que, os rabinos tinham as suas interpretações da lei, mas, agora, ele trazia a sua interpretação da lei. Os rabinos ofereciam uma interpretação das leis de Moisés e Jesus também oferecia uma interpretação das leis de Moisés. Jesus com isto estava convidando as pessoas a saírem dos jugos dos outros rabinos e virem para o seu jugo. Nas páginas dos evangelhos há um conflito sério entre o jugo de Jesus e o jugo dos fariseus. Jesus diz que o jugo dele é suave e o fardo é leve, e critica os fariseus ao dizer que eles atam pesos exagerados sobre os seus seguidores, mas eles mesmos não fazem nada para levantar os pesos que impõe sobre os outros.
Jesus não foi reconhecido como um rabino oficial, ele não foi doutrinado em uma escola rabínica, ele aprendeu o ofício de seu pai carpinteiro, no entanto, quando Jesus convoca os homens para segui-lo ele está chamando-os para que venham para o seu jugo para que ele possa ensiná-los a lei de Moisés. Jesus, então, passa a traduzir a lei de Moisés para seus discípulos.
As pessoas começam a perceber que ele faz coisas que os outros rabinos não fazem, percebem que ele faz coisas que nenhum outro rabino autorizaria a fazer. Ele come sem lavar as mãos, ele trabalha no sábado, ele cura no sábado, ele conversa com mulheres, ele se dá com estrangeiros, ele come com pecadores, ele se deixa tocar por mulheres de reputação duvidosa, ele toca leprosos, ele cura os doentes, Jesus é chamado de comilão e beberrão.
Parece-nos, então, que realmente, esse jugo é suave e leve. No entanto, observamos que numa leitura superficial o jugo de Jesus é muito mais pesado do que o jugo dos fariseus, porque Jesus diz assim: “ouvistes o que foi dito, não matarás, contudo eu digo que se você odiar você já matou”. Jesus dizia que amar do modo como o Pai ama, é amar indistintamente. Não adianta dar o dízimo das hortaliças, da hortelã e do cominho, mas não praticar a justiça e a misericórdia.
Nesse caso, o jugo dos rabinos parece mais fácil de ser seguido, pois basta apenas cumprir a lei pura e simples. Não matarás, não roubarás etc. O jugo dos rabinos se baseava apenas em atitudes exteriores; a questão do jugo de Jesus se baseia na interioridade, na subjetividade, nas motivações mais profundas do ser, e que o pecado é algo que habita as entranhas da alma e não apenas na ponta dos meus dedos. A primeira vista o comportamento de  Jesus tocando leprosos e sendo tocados por mulheres de reputação duvidosa, poderia parecer bem liberal, pois ele fazia coisas que os outros rabinos não faziam, no entanto, ao ouvir o que Jesus falava soava bem conservador, e mostrava que o jugo dele era muito mais pesado que o dos fariseus.
As atitudes de Jesus e sua fala parecem contraditórias. Como entender isso?
Jesus estava mostrando que o seu horizonte de possibilidades era maior que o horizonte de possibilidades dos fariseus, mas quando ele resignifica a lei ele não nos coloca diante de um horizonte de possibilidades, mas sim diante de um horizonte de impossibilidades. O projeto dos fariseus é um projeto de exterioridade, o projeto de Jesus é um projeto de interioridade, por isso Jesus compara os rabinos e fariseus de seu tempo a “sepulcros caiados”, de fora próximos da perfeição, mas quem os enxerga por dentro conhece sua podridão.
O projeto dos fariseus é um projeto de conformação a dogmas, a ritos e a códigos comportamentais e morais, mas Jesus não se prende ao ritualismo dos fariseus, nem pelo dogmatismo, nem pelo legalismo e moralismo farisaico, ele nos chama para uma relação muito mais profunda.
O ritualismo, o legalismo e o moralismo dos fariseus enxergam as pessoas que não se encaixam em seus moldes de exterioridade como impuras. Para Jesus impuro não é o que entra, mas o que sai, pois aquilo que sai procede do coração.
Fazer discípulos de Jesus não é doutriná-los numa confissão de fé, não é exigir deles comportamento morais, nem é submetê-los a rituais e celebrações religiosas, pois isso se chama religião. Ser discípulo de Jesus é algo muito diferente destas coisas. Aprender de Jesus que é manso e humilde de coração é fundamental, porque sem Jesus não podemos fazer nada. A questão de Jesus não é saber que tipo de comportamento eu tenho, nem que tipo de compreensão doutrinária eu possuo, que tipo de interpretação da lei eu faço, porque geralmente nos colocamos debaixo do jugo do rabino que nos parece mais conveniente. Jesus está nos perguntando é, que tipo de seres humanos somos, o que habita dentro de nós, qual é a inclinação da nossa alma.
O nosso prazer é na lei do Senhor e nela meditamos dia e noite, ou fazemos algo porque somos obrigados a fazer, nos sentindo escravos dentro da casa do próprio pai?
Parece contraditório, Jesus elogia os anti-heróis. Jesus não está preocupado com o que fazemos ou deixamos de fazer, ele está preocupado com a nossa autopercepção de quem somos diante da santidade de Deus.
Qual tem sido nosso padrão de santidade? A igreja do lado,  o apóstolo da igreja vizinha? O padrão de santidade do publicano, descrito na parábola que Jesus contou, é Deus. Ele não está preocupado em medir-se com o fariseu para sentir-se menos, porque ele sabe que é menos ainda diante da santidade de Deus.  E é isso que Jesus está sugerindo para nós. O jugo de Jesus e o fardo de Jesus só podem ser carregados pelas pessoas que aprendem com ele a serem mansas e humildes. Somente pessoas que se rendem ao Espírito de Deus, se esvaziam de sua prepotência, de sua autossuficiência, que reconhecem a absoluta impossibilidade de sua disciplina, de sua determinação, de sua força de vontade, e reconhecem a absoluta carência de recursos de viver a luz da vontade de Deus, somente essas pessoas é que se esvaziam para que sejam tomadas pelo Espírito de Deus, para que façam a vontade de Deus não como quem obedece a um código moral, mas como quem foi transformado de dentro para fora e adquiriu outra perspectiva de existência e está sob uma outra ação de influência. Por isso a questão não é não mentir, a questão é não ser mentiroso; a questão não é dar dízimo, a questão é ser generoso, a questão não é não gritar, a questão é ser paciente; a questão é ser benigno, longânime, ter domínio próprio. A lei de Deus grita bem alto na nossa cara que a gente não consegue. Não conseguimos vencer nem os nossos desejos mais simples, quanto mais cumprir a lei e sermos santos como nosso Pai Celestial é santo. E dizemos que conseguimos, que podemos? Jesus sabe que jamais conseguiremos, pois somos prepotentes e arrogantes, que antes do galo cantar pela manhã já o teremos negado. E após isso acontecer, bateremos no peito e diremos: “Tem misericórdia de mim que sou pecador”. E então, estaremos mansos e humildes para aprender dele que é manso e humilde, e assim nos tornamos os homens que Deus quer que sejamos.
Enquanto acharmos que ensinar pessoas é ensinar apostilas de doze passos, e apresentar para elas uma lista de códigos e doutrinas, uma lista de ritos morais, enquanto confundirmos crentes assíduos no auditório com discípulos de Jesus, não teremos entendido o que Jesus falou.
A questão é o mergulho do Espírito Santo para dentro de nós. Achamos que pescar homens é ir ao mundo, à escola, à família espírita vizinha, à outra igreja, e fazer com que venham para a nossa igreja. Pescar homens é promover a autoridade de Jesus na vida das pessoas, para que Jesus promova a libertação.Pescar homens é fazer surgir do interior a imagem e semelhança de Deus reveladas em termos absolutos no Cristo ressurreto. E para fazer surgir lá de dentro essa imagem de Deus revelada no Cristo ressurreto, somente na autoridade do Cristo ressurreto, no poder do Cristo ressurreto, sob a ação do Espírito Santo derramado sobre toda a carne. Essa é a diferença entre fazer discípulos para nós e fazer discípulos para Jesus. Nós conseguimos fazer discípulos para a nossa “religiãozinha”, mas para Jesus só o Espírito Santo de Deus faz.
Então compreenderemos o que o apóstolo Paulo disse: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, e foram chamados segundo o seu propósito”.  O propósito de Deus é transformar todos os homens a imagem e semelhança do seu filho Jesus, para que ele, Jesus, seja o primogênito de todos os irmãos. O bem desejado por Deus para você e para mim, é que sejamos transformados à imagem do seu filho, é forjar a imagem do Cristo ressurreto em nós. Por isso o apostolo Paulo diz que contemplando a Cristo, somos transformados de glória em glória pelo Espírito Santo de Deus segundo a imagem que contemplamos. É preciso que Cristo seja formado em nós., e que cheguemos à plenitude da maturidade de Cristo.
Portanto, onde estão as pessoas que Deus constituiu você mestre. Onde estão os discípulos que Deus tem colocado na sua vida? Eles têm se tornado parecidos com Cristo ou com você próprio? Eles têm seguido a Cristo ou ao seu conjunto de regras, doutrinas e princípios?
Acredito que estas serão algumas das perguntas que Deus nos fará quando estivermos diante dele e tivermos que prestar conta de nossos atos.
Que Deus nos abençoe!