sexta-feira, 22 de agosto de 2014



AQUELE QUE CRIA, SUSTENTA E SALVA




“No Princípio, criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.” (Gn. 1. 1-2)
É interessante observarmos que a narrativa do Genêsis já está matizada pela presença do caos e Deus é quem sustenta tudo isso. (Is 45.12) Porém essa ideia de um caos criado praticamente não é concebível, pois o que foi criado não é caótico. O caos constitui uma ameaça em si para a criação, Deus, então ergueu o mundo, tirando-o do que era informe, e o sustenta continuamente por cima do seu próprio abismo.
O próprio Deus é quem cria o mundo e o salva das trevas, sendo assim a própria criação torna-se um evento salvífico. (Is 44.24)
A criação é uma ação histórica de Deus como uma obra dentro do curso do tempo, ela inaugura o elemento frontal da história, pois se situa, de fato, como a primeira ação de Deus num começo longínquo, portanto ela não permanece isolada, pois outras ações seguirão. A criação representa um elemento central no fundamento absoluto da fé. (Jó 38)
Os capítulos iniciais de Gênesis enfaticamente pretendem mostrar a história da criação como um evento pré-histórico preparador da obra salvadora de Deus em Israel. O escritor de Gênesis, em momento algum, teve a intenção de fazer uma descrição histórico-científica do processo da criação. A narrativa de Gênesis desemboca na criação do ser humano como homem e mulher, e o mundo restante está unicamente orientado para o ser humano como a obra mais sublime da criação. O ser humano, portanto, é o centro em torno do qual Deus vai construindo toda a sua atuação. Toda a criação descrita em etapas se movimenta em direção a criação do ser humano.
O mundo e tudo o que ele contém possuem unidade e coesão interna, não por um princípio cosmológico original, mas pela vontade criadora e absolutamente pessoal de Deus. O mundo foi chamado à existência pela vontade livre de Deus, portanto ele é de sua irrestrita propriedade, sendo Ele o seu Senhor. É no ser humano, o degrau mais alto na pirâmide da criação, e sua relação imediata com Deus, que todo o mundo, cuja disposição afinal está em função do ser humano, mantém uma relação com Deus.
O ser humano foi colocado no mundo como símbolo da própria soberania de Deus, a fim de conservar e impor a reivindicação de domínio de Deus. Além de vir de Deus, a criação é dotada, através da qualidade de o ser humano ser a imagem de Deus, de uma atribuição especial que a orienta em direção a Deus. Deus conferiu ao ser humano o poder de transmitir essa sua mais alta dignidade por intermédio da procriação das gerações.
Deus completou sua obra criadora e assiste essa criação com o cuidado de manutenção e salvação que vêm de si mesmo.
Em pleno século XXI olhamos à nossa volta e parece estarmos rodeados pelo caos. O ser humano, aquele que foi criado para dominar sobre todas as coisas e através do qual o mundo se relaciona com Deus, encontra-se num processo de alienação desesperadora. Mas onde está Deus nisso tudo? Esqueceu-se Deus do mundo e o abandonou à sua própria sorte? Evidentemente  não.
Deus usa dos desígnios do coração humano para escrever a história. Ele é o Senhor da história e só por Ele tudo se mantém. Deus sustenta todas as coisas, pela força do seu poder, por cima do seu próprio abismo.
O Cordeiro é imolado antes mesmo da fundação do mundo. “E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra; esses cujos nomes estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap. 13.18). Deus já havia traçado o plano de salvação para o mundo, e desde o princípio segue conduzindo a história. Ele lançou mão de três povos para construir a história da redenção. Chamou o povo judeu: “Sai de tua terra, da tua parentela...” (Gn 12.1); a esse povo ele deu a lei, falou, fez promessas. Esse povo guardou a promessa e possuía os instrumentos necessários para reconhecer o Messias que abençoaria todos os povos. Através da cultura grega uma língua única pôde ser falada entre muitos povos, isso fez com que o evangelho se expandisse e fosse pregado aos gentios. Os romanos eram bons em direito, estabelecem a paz (pax) e propiciaram o deslocamento de um lugar para o outro, construíram estradas, e de maneira segura possibilitaram que os discípulos e o próprio apóstolo Paulo viajassem de um lugar para outro pregando o evangelho.
No momento certo, quando todas as coisas estavam como deveriam estar o Kairós de Deus se manifesta e o Cordeiro vem ao mundo para salvá-lo. Deus conduziu a história nos mínimos detalhes, chamou um povo para que o reconhecesse, usou outros dois na história desse povo para que o evangelho fosse pregado. Deus não conduz a história? Olhamos para ela e enxergamos o caos, mas o próprio Deus cria o mundo, o sustenta e o salva.


Que Deus nos abençoe!

segunda-feira, 4 de agosto de 2014


SANGUE DE LEOA



E a mãe leoa sai à caça, para alimentar a si mesma e a cria. Os dois filhotes, agora vulneráveis, se escondem no emaranhado de folhas e capim. A manada de búfalos se aproxima e percebendo a presença indefesa e acuada dos filhotes investe, com toda sua fúria, contra eles.
No romper da manhã retorna mamãe leoa, e logo percebe que algo está errado. Procura a cria, revira as folhas e ela não estão mais lá. Um rugido de dor ecoa na savana e mamãe leoa sai à procura dos filhotes. Depois de algum tempo ouve-se um ligeiro miado e, então ela vê uma das crias no descampado. Aproxima-se, lambe a cria e num gesto de carinho a acolhe com suas patas. A manada de búfalos se aproxima e mamãe leoa, agora presente, defende sua cria e com rugidos e ataques espanta a manada. Pega a leoazinha pelos dentes, a arrasta, depois a solta e agora percebe a desgraça; a pequena leoa teve sua coluna esmagada e não pode andar, se arrasta. Mamãe leoa para por um momento, ruge, lambe a cria e ruge novamente. Como se procurasse por uma resposta, para diante do rio e por alguns minutos queda-se pensativa. Mas precisa se afastar; dando um rugido de desespero e tristeza ela se afasta, pois percebe que a pequena leoazinha não iria sobreviver e não há nada que ela possa fazer.
Para manter-se viva a leoa se afasta e um rugido de dor e desespero se ecoa, novamente, na savana. Como caçadora que é e com seu olhar de felino vê a manada de búfalos; como se sentisse o cheiro do sangue da cria exalando da pelagem dos búfalos, parte contra eles. Destemida agarra o pescoço do imenso mamífero. A manada se defende, e investe contra a leoa solitária. Ela precisa se retirar.
Após caminhar, mais uma vez, ela avista a manada de búfalos e um cerco de leoas ao redor. Destemida como é, avança contra a manada, e como se não tivesse nada a perder, ganha a confiança do bando. Agora é a líder e precisa cumprir sua missão. Ela não falha, suas garras perfuram o couro no forte animal e com a ajuda das outras leoas tem a caça sucumbida diante de si. Alimenta-se e se fortalece mais uma vez.
Ouve-se um leve miado, um misto de rugido e choro. E para sua surpresa avista um pequeno filhote de leão no meio do capim seco. Mamãe leoa percebe a presença de seu outro filhote e corre para afaga-lo.
A manada de búfalos, como que buscando vingança, percebe a distração da leoa, e sorrateiramente tenta investir contra ela, agora vulnerável pela presença do filhote. Como que num milagre surge outra leoa, de olhar prateado. É a ex-líder do bando que tem o sangue de leão correndo nas suas veias e vem ajudar mamãe leoa, mesmo tendo sido por ela destronada. É o instinto de leão falando mais alto, é a defesa da raça. As outras leoas também se aproximam e juntas dissipam a manada.
Fiquei maravilhada, não pude conter minhas lágrimas!
Essa é uma história real, contada num documentário. Realmente, poderia dizer depois disso que animais são melhores que nós humanos.
Ajudam-se mutuamente, sentem tristeza, rugem pela dor na alma. Lutam por sua cria.
Animais... O ser humano deveria aprender com eles, quem sabe assim seríamos melhores.