sexta-feira, 24 de maio de 2013



ESTUDO BÍBLICO BASEADO EM UMA HERMENÊUTICA LATINO-AMERICANA
           
Textos para estudo: Oséias 4 e Oséias 6.



Na história recente dos estudos comunicacionais surgiu a noção de cultura das mídias. A base da reflexão é que o conceito de cultura massiva já não tem sido suficiente para expressar o que se vivencia na nova conjuntura da comunidade global. A ideia de cultura de massa foi construída a partir da compreensão de que havia um conjunto de objetos produzidos para as massas e consumidos por ela. Ela tem embutida a ênfase numa sociedade em que as maiorias consomem de forma complexa e indiscriminada, subordinadas à indústria cultural, e, consequentemente, às classes dominantes que fabricariam produtos sob estratégias de poder econômico e ideológico.
A noção cultura das mídias procura dar conta das transformações do contexto sociopolítico-cultural que atingem a compreensão da cultura de massa.
O entretenimento oferecido por esses meios frequentemente é agradabilíssimo e utiliza de instrumentos visuais e auditivos, usando o espetáculo para seduzir o público e levá-lo a identificar-se com certas opiniões, atitudes, sentimentos e disposições. A cultura da mídia e a de consumo atua de mãos dadas no sentido de gerar pensamentos e comportamentos ajustados aos valores, às instituições, às crenças e às praticas vigentes.
A mídia é o maior veículo de expressão do “mercado religioso brasileiro”, pois traduz por meio dela o que todos pensam e não há debates sobre a sua verdade: o credo mínimo é “Deus e fé”.
As diversas expressões religiosas brasileiras perpassam por um sistema de crenças e valores religiosos, que são:
. Compreensão de Deus: Deus é um Deus que ajuda, abençoa, ilumina, acompanha e protege. Por isso Deus é objeto de petições e desejos, capaz dos impossíveis.
. Compreensão da relação com Deus: ela é direta, não necessita intermediações, daí o próprio clero ser dispensável. Deus é amigo, é próximo. Surge com isso aversão ao rito e um apego ao culto sem obrigações nem rigor.
. Compreensão da oposição divindades positivas vs. negativas: Deus é soberano, portanto, o diabo não deve ser levado a sério. Essa atitude pode esconder, no entanto, um verdadeiro medo do Diabo. Isso explica o fato de nas religiões concretas o Diabo ocupar lugar destacado, muitas vezes acima de Deus.
. Compreensão de fé: pensamento positivo ou otimismo, segurança, confiança. Quem passa por problemas, quem quer vencer na vida, tem que ter fé.
. Relação com as instituições religiosas: desapego – tendência ao trânsito religioso.
É nesse contexto religioso que vivemos o protestantismo no Brasil.
Vivemos a era da massificação. E a igreja, enquanto instituição eclesiástica, também, tomou isso para si, infelizmente. A "cara" da igreja deixou de ser Cristo, e passou a ser os inúmeros "pop stars" travestidos de pastores e levitas.
Enfiam-nos garganta abaixo modelos massificados e aceitamos, copiamos e deixamos de criar o nosso próprio modelo, baseado e fundamentado em Cristo. 
As igrejas incham e há uma falta generalizada de conhecimento de Deus e de sua palavra. A fome por poder e dinheiro prostituem a igreja, enquanto instituição eclesiástica, que não se importa com as almas que se perdem, desde que essas engordem os cofres.
Não há transformação de caráter e consequentemente não há transformação social. A igreja se tornou um grande palco de entretenimento e reunião social, bem como um mercado onde se compram as bênçãos, e tem na mídia um aliado implacável.
Em Oséias 4.1,2 e 3, Deus admoesta ao povo para que ouça a sua voz, dizendo que Ele não está agradando de suas práticas. E como consequência dessas práticas a terra toda está sofrendo e em luto.
Isso nos revela, hoje, que somos responsáveis pelo sofrimento da terra, pois, nós cristãos fomos escolhidos para sermos os agentes transformadores, aqueles que fazem discípulos, no entanto, nossas práticas entristecem a Deus e não salgam o mundo. Como consequência, um mundo onde não há a infusão do caráter de Cristo, sofre.
Contudo em Oséias 4 e 5 Deus faz uma exortação ainda pior, Ele censura o comportamento dos sacerdotes e os responsabiliza pela tragédia, “Entretanto ninguém poderá acusar (o povo), nem o repreender, mas eu censuro a ti ó sacerdote. Tu tropeçarás em pleno dia, assim como o profeta durante a noite.”..
...”Farte ei perecer, porque meu povo se perde por falta de conhecimento...” (vs 6). O sacerdote perecerá, assim como o povo tem perecido, por falta de conhecimento, já que ele é o responsável por instruir o povo, mas, não o tem instruído, e o mantém alienado.
O grande problema da cultura massificada nas igrejas é que ela trás consigo o caráter capitalista, o ser perde lugar em detrimento do ter. Não se ensina, o povo continua alienado e opresso tornando-se presa fácil à manipulação, e consequentemente não se transforma, não dá frutos, não cresce. Quanto mais se multiplicam mais pecam, pois se agrega cada vez mais pessoas oriundas das inúmeras crenças e práticas religiosas, que buscam as soluções imediatistas oferecidas pelas igrejas, sem que sejam discipuladas e instruídas na Verdade que é Cristo e sua palavra. Não são libertas, como consequência, não têm seu caráter, nem vidas transformadas; e tudo à volta permanece no caos.
Vs 8 – “Eles se nutrem do pecado do meu povo, e são ávidos de suas iniquidades.” Prostituição da igreja que não discípula, mas recebe a “recompensa” (dinheiro, poder), por causa da iniquidade do povo, que vive cego e numa vida infrutífera e pecaminosa,  ainda que, dentro da igreja; nutrindo os desejos de poder e dinheiro de uma instituição prostituta, onde seus “cafetões” recebem os benefícios.
Vs 9,10 e 11 – Deus fala sobre a vida infrutífera daqueles que assim procedem, ainda que tenham poder, fama e dinheiro, não serão saciados, não produzirão frutos e serão ceifados. Pois ainda que possuam aquilo que a seus olhos causem deleite, terão sua razão encoberta, impedida (vs 11b - abafam a razão), serão como insensatos, loucos.
Do vs 12 ao vs 19– Deus enumera o pecado do povo (nação de Israel), e as consequências que virão.
Assim tem sido dentro das igrejas, toda forma de abominação e pecado, como, idolatria, venda de indulgências, misticismo, adultério, lascívia etc; e também temos colhido as danosas consequências oriundas dos pecados.
Mas, em Oséias 6. 1, 2 e 3, o povo toma consciência do seu pecado e decide mudar de atitude, retornar à Deus, pois Ele os dará novamente a vida, “Vinde, voltemos ao Senhor...”; decidem aplicar em conhecer o Senhor, “Apliquemo-nos a conhecer o Senhor...”; pois, entendem que assim como Deus os feriu Ele, também, os curará, “...Ele feriu-nos, Ele nos curará...”.
E no vs 3b – acontece o ápice da certeza da redenção, e poderão, então, celebrar quando a chuva serôdia irrigar a terra seca e a fizer fecunda novamente.
No restante do capítulo vemos Deus, novamente, falando ao povo sobre seus erros e pecados, sobre as iniquidades que cometeram. Deus ainda diz que quer amor e não sacrifícios, e o conhecimento mais que holocaustos.
E encerra o capítulo dizendo que, apesar de todos os erros, haverá boa colheita em Judá, quando Ele curar Israel.
Entendemos, então, que existe uma saída, precisamos agir. Precisamos tomar consciência desses erros, precisamos arrepender-nos, pedir perdão, tomarmos novas atitudes, buscar conhecimento de Deus, amarmos a Deus pelo que Ele é, e pararmos de oferecer sacrifícios de tolo em troca de favores.
Deus, por certo, virá como chuva sobre a igreja, sobre seu povo, e os fará fecundos novamente, e poderemos sim realizar a grande colheita que tanto almejamos.

Deus nos abençoe!

sábado, 4 de maio de 2013



A SÍNDROME DE JONAS


“E veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim. E Jonas se levantou para fugir de diante da face do Senhor para Társis; e, descendo a Jope, achou um navio que ia para Társis, pagou, pois, a sua passagem e desceu para dentro dele, para ir com eles para Társis, de diante da face do Senhor.” (Jonas 1. 1 à 3)
Não somos nós que escolhemos a Deus, mas é Ele quem nos escolhe. Temos uma ideia equivocada quanto a isso, pois achamos que temos a poder de escolhermos Deus. Para que pudéssemos ter a percepção do pecado, da justiça e do juízo foi preciso que o Espírito Santo nos tocasse, sem isso seria impossível o novo nascimento.
Deus tem chamado a cada um de nós e a cada um tem dado uma missão específica; para cada um de nós Deus designa uma Nínive; o problema é que muitas vezes queremos ir para Társis, não obedecemos.
É certo que possuímos o livre arbítrio, o direito de escolha, mas também é certo que nossas escolhas não nos dão direito a escolhermos as consequências. Deus tem o domínio sobre todas as coisas. A escolha é nossa, mas o que virá está fora de nosso controle, pois todo o controle está nas mãos de Deus.
Quando Jonas decide desobedecer ao chamado que Deus já havia determinado para sua vida, e resolve fugir para Társis, Deus não muda seu desígnio. O que Deus determinou iria se cumprir, independente das escolhas de Jonas. Jonas, então, embarca em um navio, o navio enfrenta uma tempestade enviada por Deus; a sorte é lançada e cai sobre Jonas, que é lançado ao mar, engolido por um peixe e permanece por três dias no ventre do grande peixe; e orou Jonas ao Senhor, o Senhor o escutou, falou o Senhor ao peixe e Jonas foi vomitado na praia de Nínive.
Percebemos que o que Deus havia determinado se cumpriu. Jonas poderia ter simplesmente obedecido, espontaneamente, e teria sido poupado das consequências de suas escolhas. Se Jonas tivesse obedecido ao chamado de Deus para a sua vida não teria enfrentado uma tempestade, e não teria permanecido por três dias na barriga do peixe.
O que Deus nos fala através dessa história?
Deus nos escolhe e nos chama. Deus não chama pessoas para serem improdutivas; no Reino de Deus não existe improdutividade. Todos nós somos chamados para fazermos discípulos. Quando fugimos do chamado de Deus para as nossas vidas, colheremos as consequências dos nossos atos, sobre essas, diga-se de passagem, não temos nenhum controle. Se for preciso Deus nos fará passar pelas tempestades da vida, e também ficar na barriga no peixe, isso significa um tempo infrutífero,um tempo de deserto, para que nos arrependamos. Mas, acima de tudo, aquilo que Deus designou para nossas vidas irá se cumprir, independente de nossas vontades, ainda que para isso tenhamos que sofrer.
Por outro lado, lembro-me da vida de Saul. O povo pede um rei, Deus concede aquilo que o povo queria. Saul foi levantado para reinar sobre a nação de Israel, no entanto, Saul, como Jonas, foge da presença de Deus e faz conforme seu coração. Saul faz escolhas erradas, peca, desobedece. Deus concede várias oportunidades para Saul, coloca, inclusive, Davi como guerreiro a seu lado; mas Saul persegue a Davi, tenta matá-lo. Saul não entende o chamado de Deus para a sua vida. E Deus se cansa de Saul. Saul perde o reino, perde a vida e Deus levanta outro rei, Davi, em seu lugar.
Essa é a outra possibilidade, quando Deus nos escolhe, é melhor que obedeçamos. Pois caso fujamos da presença de Deus, só existem duas possibilidades, e sobre elas não temos controle; ou chegaremos a Nínive, depois de passarmos pelas tempestades e sermos tratados no caráter, ou Deus após a nossa resistência e desobediência contínua, se cansará de nós, seremos sucumbidos e Ele levantará outro em nosso lugar, para completar a obra que Ele já tem designado.
Isso é algo muito sério, e muitas vezes não nos damos conta dessa verdade. Não possuímos nenhum controle sobre as consequências dos nossos atos e escolhas, e por certo elas virão. Só Deus poderá decidir como tudo irá terminar, bem ou mal.
Nossas opções são, obedecermos e respondemos ao chamado de Deus, desobedecermos e sermos corrigidos ou desobedecermos e sermos cortados. Porém só Deus poderá designar o fruto das escolhas.
Lembre-se que a colheita sempre é maior que a semeadura.
“Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo que o homem semear, isso também ceifará.” (Gálatas 6:7)
Que Deus nos abençoe!