sábado, 15 de dezembro de 2012


CARTAS VIVAS

A campainha tocou, corri até a porta; ao abri-la deparei-me com o funcionário dos correios com uma carta nas mãos.
- Senhora Adelaide? Perguntou-me.
- Sim, sou eu mesma, respondi.
Ele, então, entregou-me uma carta, e nos despedimos. Adentrei apressadamente pela sala, queria abrir o envelope, aguardava ansiosamente a carta de uma velha amiga, que ao telefone disse-me tê-la enviado.
Antes mesmo de abrir cuidadosamente o envelope, para não danificar a carta, observei os selos que traziam características do país de origem, bem como o carimbo, e que havia remetente e destinatário, que no caso era eu mesma. Havia também os endereços de ambos, remetente e destinatário, no caso deste, seria impossível tê-la recebido sem que ele estivesse lá.
Abri ansiosa cada dobra daquelas folhas de papéis delicados e levemente perfumados, com uma fragrância que eu já conhecia, era o perfume de minha amiga. Depois de vários anos ele, ainda, permanecia guardado em minha memória olfativa.
Ao dar com os olhos na escrita, pude logo identificar que a grafia me era familiar, era mesmo uma carta escrita por minha velha amiga, de longos e saudosos anos. A carta possuía algumas folhas, e continha muitos relatos, de acontecimentos e novidades vividas por minha amiga. Ela relatava-me um pouco sobre sua nova vida ali em Austin, Texas, seu novo endereço de residência.
Eu conhecia muito bem minha amiga, pude ter a certeza, lendo os relatos, de que ela estava realmente feliz. A forma com que cada palavra foi escrita era como que se eu pudesse senti-la falando pessoalmente ao meu ouvido. Cada palavra e expressão trazia uma verdade incontestável, e revelava sentimentos e emoções, revelava sua essência. Era impossível confundi-la ou não percebê-la em cada linha.
O apóstolo Paulo escreve em 2 Coríntios 3:2,3: “Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens, estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações.”
Cartas possuem conteúdos, identidade, elas vêm seladas e possuem remetentes e destinatários. Cartas contam histórias, cartas falam e transmitem informações, questionam. Cartas podem conter mentiras, insinuações, falsas histórias; o seu conteúdo dependerá daquilo que o seu remetente deseja escrever. O destinatário, por outro lado, é aquele que a recebe, que a lê, ou seja, o que faz a análise, que a interpreta, que a absorve.
Se somos cartas vivas, como cartas, seremos lidos. Possuímos um conteúdo que será transmitido a um destinatário. Esse conteúdo trará argumentos, verdades ou mentiras, ele revelará características e essências pessoais através da escrita. Não existem cartas idênticas, elas podem falar sobre um mesmo assunto de formas singulares. Elas podem revelar doçura, amor, mansidão, ou podem, também, revelar ódio, rancor e amargura. Podem ser inocentes como crianças ou maliciosas, puras ou impuras. Cartas podem ser agradáveis de serem lidas ou de conteúdo detestável.
Que tipo de carta temos sido? Que tipo de conteúdo possui a carta viva em nós?
Somos aquilo que escrevemos em cada linha de nossa história, somos lidos todos os dias. Estamos sendo observados a todo instante, ainda que não tenhamos consciência disso. Esta é uma verdade irrevogável.  A forma como nos portamos, como falamos, como agimos, como expressamos sentimentos e emoções, serão o testemunho de nossa essência. Se nossa essência é Cristo, é necessário que exalemos seu perfume, não é possível uma essência exalar um perfume do qual ela não foi feita, ou que ela evidencie características de uma substância que ela não possui.
Nossa vida testemunha daquilo que somos, pelos frutos somos conhecidos. Ninguém consegue viver num palco atuando todo o tempo, ou mesmo, viver um personagem fictício, as máscaras sempre caem. Todo espetáculo possui início e fim. Os corações sempre revelam sua escrita, pois, é o coração o centro da alma, e lá abrigam as verdades humanas. O coração abriga os arquivos de uma vida, e, é no coração que nasce a fonte de todo nosso ser.
Portanto, somos a carta que escrevemos, dia após dia, e seremos lidos. Seremos uma carta que desperta um sorriso, que trás esperança, que distribui o amor, que fala de Cristo; ou simplesmente seremos um folha de papel empoeirada jogada ao vento, detestável de ser lida.
Que Deus nos abençoe!




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