sexta-feira, 27 de abril de 2012

O VESTIDO

         






O Vestido




Era um lindo vestido, carinhosamente desenhado e confeccionado pra mim. O ganhei de papai. Haveria uma grande festa, e ele queria ver-me, impecavelmente vestida.
Seu tecido era branco, de linho fino, possuía um lindo bordado com pedrinhas  delicadamente aplicadas, por mãos deveras cuidadosas, algumas gotinhas de pérolas circuncidavam a bainha. Recordo-me do dia que o ganhei, dia realmente feliz, nunca havia ganhado algo tão especial, afinal, foi um presente de papai, ele sempre foi um pai carinhoso e surpreendente.
Nossa casa sempre estava com as portas abertas, não havia perigo ali, estávamos protegidos, seguros nos braços de papai. Tínhamos a liberdade e ir e vir, pois o amor nos mantinha sempre em casa, ainda que passeássemos pelas redondezas, voltávamos para a segurança do lar.
Em um dia comum, resolvi vestir meu vestido, e saí sorrateiramente pela porta, resolvi me mostrar, estava bonita. Todos me olhavam com um olhar de admiração. Algumas crianças aproximaram de mim, elas estavam brincando, estavam bem sujas, tentei me afastar, mas era tarde demais, aproximaram-se de mim e fui pego de surpresa, quando olhei à minha volta estava envolvida naquela situação, atiravam barro uns nos outros, eu em meio ao fogo cruzado, com meu vestido branco, prestes a sujá-lo. Não demorou muito, e eis que, a primeira mancha de barro já estava lá. Quando percebi meu lindo vestido estava manchado, me entristeci, não havia o que fazer, eles eram muitos, já havia me sujado, então, resolvi entrar na brincadeira também.
Não sei o que houve comigo, aquele vestido era tão especial para mim, mas naquele momento, quanto mais me sujava, mais queria me sujar. Havia uma confusão de sentimentos na minha alma, lembrava-me de papai, de como ele iria se entristecer, mas queria me divertir, afinal, tantas crianças estavam ali brincando felizes. O que era um vestido, comparado ao prazer que eu sentia naquele momento? Parecia que meu coração estava feliz, papai entenderia.
Quando dei por mim, meu vestido, antes tão branco, tão lindo, carinhosamente feito para mim, estava sujo de barro, irreconhecível. Senti-me tão suja, tão vil, tão má. Meu coração se deu conta, do que havia feito, e agora era tarde demais. Como voltaria para casa? Como olharia nos olhos de papai? Por certo ele castigar-me-ia, e nunca mais amaria filha tão ingrata.
O sol se pôs, se fez noite, e agora, estava eu ali, sozinha. Os amigos das brincadeiras afastaram-se, e atordoada, não sabia o que fazer. O medo tomou conta de mim, a noite era deveras escura, me senti totalmente desprotegida, longe dos braços de papai e da segurança do lar. A vergonha impedia-me de voltar. Barulhos horríveis atordoavam-me, sombras e vozes perdidas na escuridão. Como animal acuado me encontrava, vulnerável e sem forças para correr. Mas como se uma força me impelisse, levantei-me e corri para casa, meio que aos tropeços e cambaleios. Ao avistar a casa, percebi a presença de papai à porta, que com seus olhos, observava-me correr e cambalear. Rapidamente ele veio ao meu encontro. Cabisbaixa, não sabia o que falar. Permaneci em silêncio. Papai, cavalheiro como era, respeitou meu silêncio e me acolheu em seus braços. Ele sabia que naquela hora, eu só precisava voltar.
Olhei nos olhos de papai, que com paciência e carinho me acolhia. Com sua voz suave, pediu-me que lhe desse o vestido. Despi-me e o entreguei a papai. Estava nua, e envergonhada, mas a paz tomou conta de mim. Sentia-me novamente segura. Pude enfim descansar. 
Abri meus olhos, e ao lado da cama, havia um presente, o desembrulhei, era meu vestido, estava limpo, estava lindo.  As pedrinhas estavam lá, as pérolas que haviam se soltado, foram novamente bordadas à mão. Meu coração se encheu de alegria e gratidão. Corri até a sala, lá estava papai, assentado em sua poltrona predileta.  Num ímpeto de alegria saltei em seus braços e ele me acolheu calorosamente.
Não precisou que eu dissesse nem uma palavra, papai sabia de tudo, ele conhecia-me muito bem. Pude perceber o amor e o perdão em seus olhos.



“Ele nos libertou do império das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados.“(Col. 1 :13)



Quão amável pai. Pai que tem nos acolhido, ainda que sujos, com nossas vestes sem algumas pedrinhas, e com as pérolas arrancadas. Que em seu amor tem nos envolvido, lavado nossas vestes com seu sangue, para que elas se tornem alvas novamente. Pai que não se importa o quão sujos estamos, o quão longe andamos, ele nos acolhe em seus braços, nos perdoa, e nos limpa. E ainda que, nos encontremos envergonhados, e distantes de sua presença, ele continua à porta, ansiando pelo nosso retorno. Não requer de nós palavras, porque conhece nosso coração, e se compadece do filho arrependido.
Obrigada Senhor! Que por amor me acolheste, e com teu sangue lavaste-me. Para que no grande dia, dia de festa, eu me apresente diante do teu trono, com minhas vestes brancas, lavadas no sangue do cordeiro.
Amém!




“Bem aventurado, aqueles que lavam as suas vestiduras (no sangue do cordeiro), para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas.” (Apocalipse 22:14)



                

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